sábado, outubro 20, 2007

A propósito de «Natal na Praça» pelos Salesianos de S. Vicente: nota crítica de Kwame Kondé

No dia 23 de Julho de 1978 tivemos e ensejo e a oportunidade de assistir à peça «Natal na Praça» pelo grupo dos jovens dos Salesianos integrada no festival teatral programado adentro das seguintes rubricas: «Teatro policial», «Teatro cómico», «Teatro religioso», «Teatro musical».
Esta iniciativa, louvável a todos os títulos a despeito dos reparos que merece e que teceremos no decorrer deste nosso trabalho, vem uma vez mais pôr o dedo na ferida desta questão tão pertinente, que é a da estruturação e da definição consequente dos caminhos e perspectivas a que deve trilhar e obedecer a actividade cultural entre nós. Tarefa ingente esta, é certo, mas que urge ser encarada de frente e numa visão séria e clarividente.
(…)
Improvisando um palco, de medidas tão exíguas, sem atingir, quiçá, as dimensões minímas para ser considerado normal, e, no concernente ao décor, luminotecnia e sonoplastia seguindo as vias e peugadas dum teatro pobre, por isso reduzidos ao estritamente necessário e com um grupo de jovens amadores lançaram-se nesta labuta ou luta até chegar ao espectáculo e mesmo a um mini-festival teatral. No entretanto, reiteramos, dada a falta de estrutura integrante e de inserção, esta iniciativa não pôde conseguir os grandes objectivos que esta exige e a própria cultura caboverdiana necessita e, o que é mais grave pode vir mesmo a desaparecer ou então descambar na mediocridade, para mal dos nossos pecados.
A peça, «Natal na Praça», de autor francês, em versão brasileira, de fundo bíblico, pois se trata do nascimento de Jesus Cristo em Belém. Estruturalmente bem concebida foi pena que o grupo não tenha conseguido, por preparação deficiente, transmitir a dimensão teatral exacta e consequentemente os pressupostos e fundamentos de que a própria é exuberantemente rica e fértil.
(…)
Peça de participação, visando destruir a barreira entre actor e espectador, procurando protagonizar este, preocupação, aliás constante em toda ela, que o grupo, talvez por inexperiência ou falta de preparação não soube imprimir ou dar o devido jus e relevo.
Na realidade, a encenação, que se pode designar de razoável, se tivermos em conta a condição de amadores do grupo, a exiguidade do palco e demais carências poderia ter atingido uma dimensão elevada caso ao grupo houvesse sido ministrado um mínimo de técnica teatral, com eficiência, nomeadamente no domínio da relação dialéctica actor-personagem, da articulação das palavras, colocação e utilização consequente da voz, memorização do texto, jogo teatral, mímica básica, etc. etc., o que, de facto, não houve, pois se contou demasiado, mas não virtuosamente, com a capacidade histriónica dos componentes, caboverdianos, como é óbvio. Por outro lado, servindo-se de uma marcação linear sem contar com os riscos da mesma e ainda por cima num palco cuja exiguidade, com efeito, não dava para mais, houve momentos fracos, destoando aflitivamente com outros assaz positivos e, por sinal, dignos de encómios.
Esta iniciativa, louvável nas suas intenções, e infelizmente a única em S. Vicente, onde, porém, o ambiente reúne o minímo de base e condições para actividades deste género. Eis porque, urge incentivar os jovens, criando estruturas integrantes e de inserção a fim de que o exemplo dos Salesianos possa encontrar terreno preparado e se vingar fecundamente através de frutos que aproveitem a todos.
A personalidade dum povo se mede, ou melhor, é o retrato fiel da sua força cultural e esta se revela, sem dúvida, pelas realizações positivas que este povo é capaz de levar a cabo, pondo-as em prática, estética e socialmente eficaz, como prova relevante do seu poder de criação dialecticamente aberta e válida inerente à própria condição humana.
(Artigo publicado no número do jornal «Voz di Povo» de 5 de Agosto de 1978)

sexta-feira, outubro 19, 2007

Critica em Cabo Verde II

Uma vez que não me encontro mais em Cabo Verde não poderei continuar a minha actividade de critica teatral no terreno, mas estarei atenta a todos os espectáculos que acontecem aqui em Portugal que se ligam a Cabo Verde (como sendo o trabalho dos Burbur no Porto por exemplo) para escrever.
Aproveitarei ainda este espaço para colocar algumas criticas de teatro que foram feitas ao longo dos tempos, por várias pesooas em Cabo Verde e assim enriquecer este blog.
Porque é para mim essencial reflectir sobre a Critica Teatral feita em Cabo Verde.