quarta-feira, setembro 27, 2006

Mindelact 2006 - Sal e S. Nicolau no Off

Reflectindo sobre os trabalhos apresentados pelo Grupo de Teatro B’Leza de S. Nicolau e Grupo de Teatro Estrelas do Sul da ilha do Sal, O patrão e suas maldades e Sim, sim, não, não, respectivamente, questiono em que formato e com que objectivos se realiza o Off. Pela qualidade dos trabalhos apresentados facilmente chego á conclusão da validade da expressão «O importante é participar!!!». Poderá parecer um pouco redutor este raciocinio, mas ressalvo que o Festival Mindelact possui nos seus mais nobres objectivos a criação de oportunidades de encontro dos grupos das várias ilhas e troca de experiências, o que muito positivamento aclamo.
Mas partindo para outras reflexões, estes dois grupos apresentaram-se muito frágeis ao nível de trabalho cénico. Repetindo o que tem sido prática corrente, basearam as suas performances em improvisação. E aqui faço um parêntese, nesta questão da improvisação. É importante percebermos que para improvisar temos que dominar as ferramentas de improvisação. Assim como o músico que domina as pautas, as melodias, as medidas do seu instrumento; como o bailarino que domina as unidades do seu corpo e do seu movimento e só assim partem para a improvisação, também o actor tem que dominar tudo o que está subjacente á arte da representação para poder mergulhar num exercício de improvisação, senão corre o risco da mediocridade em cena. Já nos cansa a piada fácil, já se esgotaram todos os clichés, é momento de percebermos em que mar navegamos. Mas se estes espectáculos pecaram pela pouca exigência cénica e interpretativa, ganharam pela energia e vitalidade dos potenciais actores. A encenação esteve ausente, a cenografia esteve ausente, a luz esteve ausente. O que restou foi um momento lúdico á volta dum tema preconcebido, com o que isso possa ter de entretenimento. Os actores que interpretaram os protagonistas de ambos os espectáculos possuem uma boa energia e uma entrega interessante, o que me leva a querer vê-los num projecto exigente, pois têm capacidade para ir mais longe. Mas ficou o «soube a pouco» como eco destas peças.

terça-feira, setembro 19, 2006

MINDELACT 2006 - Un vez Soncente era sabe

A abrir o Mindelact 2006 tivemos um musical da autoria de Neu Lopes, um jovem mindelense, numa produção do Sarrom.com.
Esta peça, arrojada na sua estética transportou-nos para a memória daquele teatro dos primeiros tempos teatrais neste país, onde o salão era o palco por excelência. Retrata o universo mindelense no início do século XX. Comédia musical, assim apelida o seu criador, este espectáculo apresenta-nos um drama romântico como linha dramatúrgica, sendo que, passou muito ao de frágil a sua eficácia. Leva a supor que esta história de amor fatal se mostrou mais secundária do que principal, e o público sentiu-se mais agarrado à história das meninas do salão, essa sim, vertente bastante sublinhada e acarinhada pelo público.
Uma abertura original do festival, um género raramente apresentado, com uma recepção francamente optimista. Com elementos de vários grupos de teatro mindelense, cito Solaris, GTCCPM, Sarrom.com, Teatroakácia e Dionisios, este espectáculo apesar da sua deficiente concretização técnica, onde nos deparamos com problemas de som perturbadores e alguma imaturidade do trabalho, conseguiu cativar um público que sem lugar ao tédio assistiu ao seu desenrolar.
Com momentos bastante interessantes, como sejam as coreografias e musicas das nossas meninas do salão, estes tornaram-se eco no festival, e por todo o lado fomos sendo brindados por um «Nôs ê profissional!!!», desde a produção do festival até aos grupos convidados, passando pelo simples espectador, o que demonstra o forte eco que a peça provocou.
Com uma excepcional sonoplastia, nem sempre os actores conseguiram estar á altura dos acordes. Ao nível do movimento, aponto a luta entre o Djo Diabo e Raf criativa e tecnicamente bastante interessante.
A sala estava lotada, e houve um grande número de pessoas que não conseguiram lugar, o que mais uma vez vem reforçar o carácter já quase mitológico deste espaço e tempo chamado Mindelact.