segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Quando as máquinas param - Cena Aberta


Após longos meses de silêncio teatral, a Praia teve a oportunidade de assistir á nova produção do Cena Aberta – Companhia de Teatro, com a peça «Quando as máquinas param» do dramaturgo brasileiro Plínio Marcos, numa encenação de Wilton Alexandre.
Uma peça que retrata o drama comum e incógnito dum casal onde a insustentabilidade financeira leva á insustentabilidade de afectos.
O público durante cerca de hora e meia foi testemunha do acto heróico de quem não tem emprego, não tem comida e mesmo assim luta por manter o equilíbrio emocional.
Drama comum, presente na memória de todos nós, esta peça sublima a dor e a luta de quem inequivocamente agarra os valores possíveis: do futebol e de histórias fáceis com final feliz das comuns telenovelas que de algum modo nos contentam.
Numa encenação naturalista, os personagens da vida banal se apresentam como heróis desta batalha de vida, é o herói da modernidade em substituição do herói clássico. Muito interessante esta opção, apresentando no palco praiense uma nova estética teatral, despojada de grandes elencos e grandes cenografias e colocando a tónica no trabalho de actor.
A peça leva a palco dois actores formados pelo Curso de Teatro do Centro Cultural Português da Praia, Valdir Brito e Dulce Sequeira, num trabalho bastante exigente ao nível interpretativo. Sentimos alguma fragilidade no incorporar do texto remetendo por vezes para a simples força das palavras de Plínio, questão que poderá estar relacionada com o exíguo tempo de ensaios (segundo o encenador o tempo necessário foi reduzido a metade apresentando algumas dificuldades no processo).
Mas no entanto, apesar de alguns momentos pontuais menos interessantes, a peça fluiu e agarrou o espectador. Foi nítida a opção clara na encenação de fechar a peça, ou seja, não foi dado ao espectador uma obra aberta a qual ele pudesse completar com seus múltiplos sentidos, mas sim a evidência do que se queria transmitir, reforçado através do trabalho da dançarina Bety Fernandes e através da própria música que guiou o público para o abismo de afectos propositado.
A cenografia, apesar de apresentar a ideia inovadora do uso de material reciclado, ficou um pouco aquém do esperado com a inclusão de alguns materiais (ex. banco de ferro, etc..) perdendo a sua unidade estética.
A peça carece de mais apresentações, para conquistar a maturidade interessante, mas sem dúvida conquistou o público que no final deixou cair uma lágrima, cumprindo assim a sua função catártica.
Cena Aberta é já um grupo consolidado na Praia e promete já uma nova criação, desta vez um texto do próprio encenador - «O Jogo».